Você já parou para pensar se tudo o que você sempre ouviu sobre Levítico 20:13 estivesse incompleto? E se essa passagem contivesse um significado muito mais profundo do que aparenta? Prepare-se para uma análise revolucionária que conecta Levítico, Daniel e Ezequiel em um mosaico fascinante. Vamos explorar o que está escondido nas entrelinhas e como isso pode transformar sua perspectiva sobre um dos temas mais controversos da história bíblica. A discussão sobre o significado da homossexualidade em Levítico 20:13 frequentemente gera controvérsias. No entanto, ao analisarmos o contexto histórico e teológico das Escrituras, especialmente através dos livros de Daniel e Ezequiel, podemos entender melhor a expressão “abominação” (toebah) e como ela se relaciona com a prática homoerótica.
O homem que se deita com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e o seu sangue cairá sobre eles. (Levítico 20:13)
A "Abominação da Desolação"
Ele confirmará uma aliança com muitos durante uma semana; e pelo tempo de meia semana fará cessar o sacrifício e a oblação. E sobre a nave do Templo estará a abominação da desolação até o fim, até o termo fixado para o desolador. (Daniel 9:27)
Em Daniel 9:27, a expressão "abominação da desolação" é usada para descrever uma situação que causa horror e repulsa, refletindo práticas idolátricas que ofendem a santidade de Deus. Esta referência à abominação sugere um tipo de pecado que não apenas viola a lei moral, mas também interfere na adoração a Deus, colocando ídolos em seu lugar. A abominação em Daniel é associada a ações que desonram a relação do povo com seu Deus, revelando um padrão de comportamento que é desprezado por Deus. Essa idolatria era uma "abominação" extrema, trazendo à memória a imagem de algo "maléfico" e "horrendo".
Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, entenda; Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; (Mateus 24:15, 16)
A utilização dessa terminologia por Jesus em suas referências à grande tribulação sugere que o foco não está nas relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo, mas sim em atos que vão contra o culto verdadeiro e a adoração a Deus. (Mateus 24:15, 16)
Ezequiel e as Visões de Idolatria
O profeta Ezequiel apresenta uma crítica contundente às práticas idolátricas que ocorriam no templo. Ele relata visões de anciãos que adoravam imagens de divindades (Ezequiel 8:5-16), onde a verdadeira abominação era a adoração a ídolos em lugar da devoção a Jeová. A "abominação" aqui refere-se, em grande parte, à violação da exclusividade do culto a Jeová, que é uma questão central em várias passagens do Antigo Testamento.
A palavra hebraica toebah (abominação) aparece com frequência em Ezequiel, principalmente relacionada a práticas idolátricas. Isso sugere que a condenação se dirige a ações que desviam a adoração a Deus, e não a orientações sexuais em si. A homossexualidade, em sua essência, não se encontra nesse contexto, mas sim as ações que levam à idolatria e ao desprezo pela aliança com Deus.
Em Ezequiel, "abominação" ocorre em atos de idolatria dentro do templo de Jerusalém. A profecia de Ezequiel descreve quatro ações idólatras: um altar para uma divindade, oferendas a imagens de criaturas, rituais de luto pelo deus Tamuz, e a adoração ao sol. Cada um desses atos é considerado uma afronta a Deus, pois tira dele a adoração exclusiva e atribui-a a ídolos.
No contexto de Ezequiel, a "abominação" não se refere apenas à idolatria, mas também ao desprezo direto pela presença de Deus. Esses atos eram vistos como tentativas de expulsar Deus de seu santuário. Em outras palavras, as práticas abomináveis de idolatria eram uma forma de rejeitar a santidade de Deus e substituí-la pela adoração a ídolos.
Mais uma vez, vemos a palavra hebraica toebah (“abominação”) usada para descrever práticas que desviam a adoração verdadeira. Não é uma condenação genérica de comportamentos, mas uma crítica à idolatria. Será que Levítico 20:13 também está apontando para algo maior?
Homossexualidade e a Evolução da Compreensão
Historicamente, o termo "homossexualismo" foi criado em um contexto que o rotulava como uma anomalia, como demonstrado por Laurenti (1984), que ressalta que, ao longo do tempo, a percepção médica e psicológica da homossexualidade mudou. A partir de 1973, a Associação Psiquiátrica Americana e a Associação Americana de Psicologia passaram a considerar a homossexualidade como uma orientação sexual válida e não como uma doença, o que reflete uma mudança significativa na compreensão social e científica sobre a sexualidade humana (MATIAS apud PALMA; LEVANDOWISK, 2008).
A Prostituição Sagrada
De acordo com Assis (2006, p. 75-76), a palavra "qdš" em sua forma singular significa "separado", "sagrado" ou "santo". Essa mesma raiz pode se referir a conceitos como "santidade de Deus", "santidade do templo" ou "santidade do povo". Jacob Milgrom descreve a palavra "santo", ou "qadosh", como algo que está "separado" ou "distinto das outras nações", especialmente no contexto de Judá. Em Levítico 20:24b-26, Deus ordena que seu povo seja "santo", assim como Ele é, destacando que foram escolhidos para essa separação.
Por muito tempo, a palavra "qedošîm" foi traduzida como "sodomitas", ligada a possíveis referências a relacionamentos homossexuais em Gênesis 19. No entanto, essa interpretação mudou, e agora "qedošîm" é mais frequentemente entendido como "prostitutos cultuais", referindo-se a homens envolvidos em práticas sexuais nos templos de cultos pagãos.
Deuteronômio 23:17
I Reis 14:24
David Greenberg observa que os cultos de fertilidade do passado frequentemente incluíam práticas sexuais anais, com sacerdotisas evitando a gravidez por meio do sexo anal. As palavras "qdš" e "qedošîm" no "código de santidade" visam preservar a identidade do povo e evitar a incorporação de práticas religiosas estrangeiras (ASSIS, 2006, p. 75-76).
As palavras "qdš" (שֹודָק) e "qedošîm" (םיִשֹודְק) aparecem no "Código de Santidade", que se refere a Levítico 17-26. Essas seções abordam a santidade e as leis que os israelitas deveriam seguir.
Levítico 19:2
O "Código de Santidade" enfatiza a importância da santidade na vida do povo de Israel, refletindo a natureza de Deus e a necessidade de um comportamento que corresponda a essa santidade.
O que entendemos como prostituição hoje não é o mesmo conceito dos tempos antigos, quando a sexualidade era vista de maneira diferente, sem o estigma que possui atualmente. Certeau (1975, p. 34) destaca a importância da historiografia na interpretação dos textos antigos sobre prostituição, sugerindo que as influências contemporâneas podem distorcer a compreensão de práticas homoeróticas masculinas do passado.
O termo "prostituição" vem do latim "prostituere", que significa "colocar à frente" ou "expor". Como fenômeno social, a forma como as mulheres em situações de prostituição eram vistas mudou ao longo da história e nas diferentes culturas. No Ocidente, a prostituição nem sempre teve uma conotação negativa. Em sociedades onde a monogamia não era a norma, a sexualidade era tratada de forma diferente, e a prostituição, como a entendemos hoje, não existia. Em algumas civilizações, por exemplo, havia rituais de passagem que envolviam o sexo, enquanto em outras, homens iniciavam jovens em troca de presentes (CECCARELLI, 2008).
Autoras como Gerda e Lerner apontam que as sacerdotisas, que antes eram figuras de importância e independência sexual, conhecidas como "prostitutas sagradas", acabaram se tornando vistas como meretrizes comuns devido a mudanças patriarcais na sociedade (BATISTA, 2011, p. 3). Jorge Dulitzky (2000, p. 18-19) ressalta que, na antiguidade, a prostituição não tinha uma conotação negativa. O sexo ritual não visava satisfazer desejos carnais em troca de dinheiro, mas era uma forma de servir às grandes deusas Inana, Ishtar, Astarté e Astaroth. Não havia amor entre os homens e as prostitutas cultuais, e o pagamento pelos serviços era oferecido aos pés das deusas.
Segundo Dulitzky (2000, p. 19), a perda da virgindade não impedia uma mulher de ter um casamento respeitável; ela podia ter várias relações antes do casamento sem perder seu status de honra. De fato, a virgindade estava ligada a práticas religiosas que garantiam a fertilidade.
A prostituição sagrada foi abolida pelo imperador Constantino no século III d.C. Em algumas regiões, esses cultos mudaram, passando a ser realizados de forma simulada até o século V, quando foi fechado o último templo dedicado à grande deusa (STONE, apud DULITZKY, 2000, p. 20).
Follis e Carmo (2007, p. 107) afirmam que sempre que a Bíblia hebraica menciona a homossexualidade, refere-se a adoradores homens que se envolvem com prostitutos masculinos do templo. A palavra "abominação" nesse contexto indica um "ritual incorreto", não necessariamente um ato imoral. Assim, sempre que o Antigo Testamento menciona práticas homossexuais, está se referindo a essas relações cultuais. Infelizmente o versículo em Levítico 20:13 é amplamente interpretado como uma proibição da prática homoerótica, com a maioria dos estudiosos concordando com essa leitura (ver SPRINGETT, 2007, p. 85; LOVELACE, 1978, p. 87)
A análise de passagens bíblicas em Daniel e Ezequiel revela que a
"abominação" frequentemente associada à homossexualidade se refere a
práticas idolátricas e à violação da adoração exclusiva a Deus. A condenação da
homossexualidade, quando presente, deve ser contextualizada no entendimento
mais amplo de adoração e lealdade a Deus, em vez de ser vista como uma
condenação universal das relações homoafetivas. A Bíblia, ao contrário de ser
uma fonte de rejeição, é um convite ao amor e à aceitação, desafiando
interpretações que perpetuam o preconceito e a discriminação.
Foco na Preservação Religiosa e Cultural
"Não contrairás matrimônio com eles; não darás tua filha a seu filho, nem tomarás sua filha para teu filho. Pois eles desviarão os teus filhos de mim, para que sirvam a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderá contra vós, e Ele depressa vos destruirá." Deuteronômio 7:3-4
Deus orienta os israelitas a não se casarem com os cananeus e outras nações vizinhas para evitar que adotassem práticas idolátricas. Não se trata de uma proibição genérica de casamentos entre diferentes etnias, mas sim de um cuidado para preservar a fidelidade espiritual a Jeová.
"Os chefes vieram ter comigo e disseram: 'O povo de Israel, os sacerdotes e os levitas não se separaram dos povos dessas terras, com suas abominações, isto é, dos cananeus, hititas, perizeus, jebuseus, amonitas, moabitas, egípcios e amorreus. Pois tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e assim a linhagem santa tem sido mesclada com os povos destas terras.'" Esdras 9:1-2
Após o retorno do exílio, Esdras condena os casamentos entre judeus e povos estrangeiros que praticavam idolatria, referindo-se às "abominações" desses povos. A preocupação principal era evitar que os israelitas se contaminassem com práticas religiosas contrárias à lei de Deus.
As proibições contra casamentos mistos em textos como Deuteronômio 7:3-4 e Esdras 9:1-2 visavam preservar a pureza religiosa e cultural de Israel, não necessariamente por causa das origens étnicas dos povos, mas porque essas uniões muitas vezes levavam à idolatria. Similarmente, as proibições de atos homoeróticos em Levítico 18:22 e 20:13 estão inseridas em um contexto em que práticas sexuais eram muitas vezes associadas a cultos idólatras. Assim como "casamentos mistos" não são condenados como imorais em si mesmos, mas sim pelo potencial de desviar o povo de Deus para a idolatria, alguns estudiosos argumentam que as proibições de atos homoeróticos podem estar ligadas ao contexto de prostituição sagrada ou práticas idolátricas, e não à homossexualidade em termos de relações consensuais e amorosas como as compreendemos hoje.
A palavra hebraica toebah é frequentemente usada para descrever atos que ofendem a santidade de Deus, geralmente em conexão com idolatria (ver Esdras 9:1-2 e Ezequiel 8). Por exemplo:
- Casamentos mistos eram condenados porque envolviam a adoção de práticas culturais e religiosas que desviavam os israelitas da adoração ao Deus verdadeiro.
- A prática homoerótica, em Levítico 18:22, é chamada de "abominação," o que pode indicar que o foco da proibição estava mais relacionado ao contexto religioso (como prostituição sagrada ou idolatria) do que a um julgamento moral universal sobre a sexualidade.
Se entendermos "abominação" como algo que viola o culto exclusivo a Deus, a condenação em Levítico pode estar limitada a práticas culturais específicas daquela época, assim como a proibição de casamentos mistos.
Assim como o conceito de "casamentos mistos" foi reavaliado no Novo Testamento, onde Paulo ensina que em Cristo "não há judeu nem grego" (Gálatas 3:28), hoje as proibições do Antigo Testamento sobre atos homoeróticos devem ser interpretadas à luz do contexto histórico e cultural.
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Então, o que aprendemos? A "abominação" em Levítico 20:13, Daniel e Ezequiel tem menos a ver com moralidade sexual e mais a ver com adoração verdadeira. Quando lermos esses textos, precisamos entender o contexto histórico e teológico. Gostou dessa análise? Então curta, compartilhe e discuta com seus amigos!
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